quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Evolução da moeda e padrão monetário atual (Parte 1)

Conforme havia prometido no post inicial  daremos início hoje uma descrição sobre a evolução da moeda e dos meios de pagamento e como ela provoca as crises atuais. 

Vou dividir este tema em algumas partes, ainda não sei quantas, vai depender da necessidade e do tamanho do texto, para que fique o mais objetivo possível. Assim, alguém que procure informações de somente um tópico não precisará ler todos os textos.

Surgimento das trocas voluntárias


Devemos voltar ao passado e tentar entender como surgiu o comércio. Primeiramente é importante ressaltar que o comércio, ou mercado, não tem uma origem muito bem determinada e ocorreu naturalmente na história da humanidade. Mas pela lógica deve ter surgido ao mesmo tempo em que surgiu a ideia de propriedade privada, mesmo que a própria ideia de propriedade privada também não tenha uma origem muito bem determinada.

Mesmo durante um período em que os povos eram nômades é perfeitamente possível imaginar uma troca de propriedade privada entre eles. Imagine que o indivíduo A saiba fazer um casaco de pele de animal para se proteger do frio bem mais confortável e bonito que os demais, porém não sabe fazer muito bem outros artefatos com a mesma habilidade. Agora imagine que um indivíduo B saiba construir armas (arco, flecha, lança), com incrível precisão, durabilidade e elegância (por incrível que pareça a elegância é uma característica tão importante quanto as demais), mas não saiba construir muito bem outros artefatos. Para resolver o problema de distribuição da riqueza gerada há 3 soluções possíveis:

Solução 1: A sociedade em que eles vivem poderia impor uma norma seja por meio de acordo coletivo, ou por meio de uma liderança coercitiva, em que os bens produzidos pelos indivíduos pertencem a todos do grupo, e que devem ser divididos igualitariamente.

Porém impor que os bens deverão ser divididos igualitariamente gera um problema sério, pois você está assumindo que todos os bens possuem o mesmo valor, ou seja, a trabalho realizado por A tem o mesmo custo e complexidade do B, quando na prática isto não é comum. O casaco pode levar muito mais tempo e requerer muito mais recursos do que as armas (ou vice - versa). O problema pode tentar ser contornado, com a sociedade tentando quantificar o esforço realizado por A e o esforço realizado por B e fixar a equivalência de um em relação ao outro. Mas isso é muito complexo, as variáveis mudam todo tempo, o que era abundante ontem pode se tornar escasso amanhã e vice - versa. Se um dos indivíduos não concordar com a equalização imposta forçosamente a eles isto pode gerar sérios problemas e conflitos. Não havendo a concordância do indivíduo, a próxima tentativa de solução seria apelar para a escravidão, isto é, forçar o indivíduo a obedecer, o que é moralmente questionável.

Solução 2: Se o indivíduo A quer um bem do indivíduo B e o indivíduo B quer um bem do indivíduo A, eles podem então entrar em conflito aberto e um tentar tomar a propriedade do outro. Algo que muitos povos fizeram ao longo da história.

O problema é que guerras são muito caras, e envolvem uma série de riscos: Você pode perder e acabar morrendo, pode vencer mas o estrago causado pela guerra ser tão grande que era preferível ter perdido, etc. Para tentar contornar este problema o indivíduo A pode tentar formar alianças para ficar mais forte e acabar com a disputa mais rapidamente, reduzindo com isso os custos da batalha. Mas isso gera um outro problema, o indivíduo B pode ter a mesma ideia, com isso uma disputa que seria resolvida somente entre dois indivíduos, toma proporções ainda maiores ficando ainda mais cara. Além disso, os aliados que ajudaram o indivíduo vão esperar por espólios de guerra, afinal ninguém vai se arriscar por você de graça e isso pode acabar gerando outro conflito, dessa vez entre os próprios aliados.

Solução 3: Se o indivíduo A quer um bem do indivíduo B e o indivíduo B quer um bem do indivíduo A, então os dois podem entrar em comum acordo e decidirem como será realizada uma troca de mercadorias entre eles, como base unicamente em dados como a oferta e demanda. Uma vez que, cada um sabe o esforço que fez para a confecção do seu bem, ele sabe exatamente o mínimo a ser cobrado para que a atividade seja atrativa. Se o indivíduo A quiser realizar uma troca com muito mais vantagens para si, o indivíduo B pode procurar outro disposto a realizar uma troca com menos vantagem, seja por que ele está disposto a reduzir seu ganho em detrimento de realizar a negociação, ou porque ele é mais eficiente que o indivíduo A, realizando o mesmo serviço com esforço menor.

Você caro leitor, já deve ter percebido que a solução adotada pela sociedade, pelo menos a princípio, é a solução 3, de realizar trocas voluntárias. De fato ela é uma solução bastante lógica ao problema pois, pelo menos durante a transação, os dois indivíduos não observam nenhuma falha nesse processo: (I) Ninguém me obrigou a realizar a troca, eu escolhi fazê-la. (II) Não tive que entrar em uma batalha com meu vizinho.

Porém esta solução gera dois problemas intrínsecos, pense um pouco: Se eu sou o indivíduo A e preciso de um bem do indivíduo B, o que eu vou fazer se o bem que eu fabrico não é de interesse do indivíduo B? Outro problema também seria a formação de carteis. Isto é, o indivíduo A e todos aqueles que fabricam o mesmo bem que ele, podem entrar em um acordo para encarecer seus produtos e assim lucrar mais. Eu ainda não havia definido o lucro neste texto, pois nessa linha temporal a ideia de comércio esta apenas surgindo, mas vamos caracterizá-lo aqui como a diferença positiva entre a recompensa auferida pela troca voluntária menos o esforço para construir o bem ou realizar o serviço.

Como havia dito, a solução encontrada pelos indivíduos é a terceira, a troca voluntária, mas com o tempo, os mesmos indivíduos tiveram que lidar com os dois novos problemas, criados pelo padrão de distribuição de riqueza que eles mesmos escolheram. É importante ressaltar aqui que os outros dois padrões de distribuição de riqueza também já foram usados (e/ou estão sendo usados) durante algum momento da história, mas é a exceção, como regra geral a troca voluntária é o padrão. É importante ressaltar também, que a troca voluntária não foi escolhida por meio de uma votação ou coerção, as coisas foram acontecendo e naturalmente os indivíduos começaram a trocar seus bens entre si.

Agora que entendemos que a troca voluntária é o padrão, teremos então que tentar encontrar respostas para os dois problemas acima abordados: (I) O problema de trocar um bem com alguém que não o deseja. (II) O problema do surgimento de carteis. Porém são temas extensos e requerem uma análise individual com outros assuntos que não são o objetivo deste texto introdutório. Estes dois temas serão abordados em postagens futuras.

Espero que tenham gostado do texto introdutório. Caso tenham alguma critica ou sugestão, fineza usar o campo dos comentários. Esse texto não possui referências bibliográficas, pois como havia dito, é impossível determinar quando efetivamente surgiu a primeira troca voluntária. É como perguntar quando efetivamente surgiu a linguagem. É algo que está perdido no tempo. Mas quando for citar datas ou números nos próximos posts colocarei as referências.

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Obrigado pela leitura, até mais.

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